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Recebeste-me de braços abertos logo no meu primeiro dia de vida fora daquele hospital e desde então nunca mais me abandonaste.
Lembro-me de viver contigo, de me distraíres sempre que a minha mãe ia trabalhar e eu chorava, dos gelados que me davas sempre que eu estava triste. Obrigavas-me a dormir durante a tarde e deitavas-te também na cama para ter a certeza que eu o fazia, mas sempre que adormecias ou fingias que o fazias eu fugia sem olhar para trás. Nunca me leste uma história mas todos os dias cantavas para mim e dançavas comigo mal o rádio começava a tocar. 
Foram imensas as lágrimas que me limpaste do rosto mesmo sem perceberes o porquê de elas caírem, reconfortavas-me dizendo que era da idade e que mais tarde ou mais cedo haveria de passar. 
Sempre fui a tua confidente, a pessoa que sabia de tudo o que se passava em tua casa e que levavas para todo o lado sempre que saías. Recordo como se fosse hoje, o dia em que me apresentaste aos teus amigos todos e sou capaz de ainda reconhecer alguns deles.
À noite deixavas-me ir até à rua brincar com as minhas amigas, mas sempre sob o teu olhar atento.
Exigias que comesse tudo o que deitava no prato com a desculpa de que me iria fazer crescer tanto que um dia ia ter que baixar a cabeça para entrar em tua casa. 
Respeitaste as minhas manias e até te esforçaste por dançar as minhas músicas favoritas. Tomaste conta de mim quando não havia ninguém disposto a fazê-lo e não imaginas o quanto te sou grata por isso.
Durante toda a minha vida, mostraste-me que lutar é sempre o caminho certo, que cair faz parte do percurso, que as feridas que fiz nos joelhos, nos cotovelos e mesmo no queixo, não são mais que palavras que me ajudarão a recordar a minha história.
Sendo tu uma das pessoas mais importantes da minha vida, e das poucas que eu sei que não aguentarei perder, não podia deixar passar em branco o teu aniversário. 
Feliz Aniversário, Vó!

O amor próprio...
Dizem que tem que ser o maior sentimento que habita em ti e que não deves abdicar dele por nada nem ninguém neste Mundo. Também nunca te deves esquecer dele, só ele te mostra o valor que tens e que, por vezes, pode não condizer com o valor que os outros te atribuem. 
Há "amores próprios" que são mais valorizados pelas pessoas que outros e, geralmente as pessoas de fora vêem-no como as tuas qualidades. Quando isso acontece, é fácil distinguir uma pessoa com muito pouco amor próprio. É sempre aquela pessoa que vive apenas para "tramar" os outros e assim tentar valorizar-se: BURRA! Este tipo de pessoas tem como hábito esconder as pessoas que representam algo bom para alguém tentando ocupar o seu lugar: FALSA! 
Mas nem tudo está perdido. Felizmente, a maior parte das pessoas não é assim. São pessoas que sabem valorizar os seu amor próprio e que conseguem amar alguém. No inicio até podem desvalorizar o amor que sentem por eles mesmo com o intuito de fazerem alguém feliz mas é aí que percebem que isso é um erro.
Não pretendo com isto mostrar que sou uma pessoa muito entendida no assunto, porque não sou. Se fosse, não tinha errado tanto nem tinha deixado que me enganassem da maneira que enganaram. Quero apenas mostrar que há vários caminhos à escolha e que mais tarde temos que saber lidar com as consequências do nosso percurso. 
Talvez essas consequências estejam mais perto do que se espera..... 

"Há histórias que, quando mal resolvidas, voltam do passado como se fossem fantasmas e te fazem voltar a cair por terra...."

Assombram-nos com a falinha mansa do que poderia ter sido feito de forma diferente, do que nós ainda podemos mudar. Pedem uma segunda oportunidade, imploram o nosso perdão fingindo que isso é o que eles mais precisam no momento. Dizem querer esquecer o dia em que decidimos que o melhor era seguir cada um para o seu lado e que uma boa amizade não chega. Querem que lutemos por uma história que já foi à imenso tempo e não tem como voltar a acontecer. Tentam fazer com que voltemos a ser o que fomos um dia mas não percebem que o que aconteceu não volta. As pessoas mudam à medida que superam as dificuldades que apareceram no caminho, caminho esse que tiveram que fazer sozinhas por demasiado altruísmo para com o outro. Não há como voltar ao "Antes" para construir um "Depois" se para mim o que tenho "Hoje" é mais que suficiente.
Sentimos-nos culpadas do género: "Será que foi por minha causa que tudo isto seguiu um caminho tão errado?" "Será que vale a pena tentar?" Não, é um erro recuperar uma história que já foi apagada pelo tempo, mudar por quem um dia não te soube dar valor, perder tempo com alguém que já mostrou que não te merece.