Sentada no parapeito da janela a olhar as crianças que brincam no parque. A música está a tocar embora não lhe preste muita atenção, limito-me a deixar o calor da noite penetrar no meu corpo e aquecer o meu quarto. 
De repente começa uma música que ouviamos quando estavamos numa das nossas longas conversas. Começo a lembrar-me de todos os momentos passados contigo e começo a aperceber-me que era apenas eu que os achava magníficos, que eram apenas os meus olhos que brilhavam de cada vez que te via. 
Podem dizer que és parvo, por vezes concordo. Que não tens coração, há uns dias que sinto que o trocaste por uma pedra. Podem acusar-te de seres uma infinidade de coisas más e tu podes acreditar em tudo o que te dizem. Se caires sabes que vou estar lá para te amparar a queda, se chorares eu estarei lá para te limpar as lágrimas e dizer que tudo vai correr bem.
Agora, que a música acabou chego à conclusão que podem apontar-te o dedo por muitas coisas mas nunca por não teres sido amado. Foste e és muito amado, és o mundo de alguém... Alguém de quem tudo levaste, a vontade de viver, o sorriso, o brilho dos olhos, a maneira de ser... Hoje já só restam lágrimas para esse alguém e mesmo assim está disposta a dar-tas. Depois de tudo isto, ainda dói muito pensar que esse alguém sou eu e que tu não queres saber.