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Recebeste-me de braços abertos logo no meu primeiro dia de vida fora daquele hospital e desde então nunca mais me abandonaste.
Lembro-me de viver contigo, de me distraíres sempre que a minha mãe ia trabalhar e eu chorava, dos gelados que me davas sempre que eu estava triste. Obrigavas-me a dormir durante a tarde e deitavas-te também na cama para ter a certeza que eu o fazia, mas sempre que adormecias ou fingias que o fazias eu fugia sem olhar para trás. Nunca me leste uma história mas todos os dias cantavas para mim e dançavas comigo mal o rádio começava a tocar. 
Foram imensas as lágrimas que me limpaste do rosto mesmo sem perceberes o porquê de elas caírem, reconfortavas-me dizendo que era da idade e que mais tarde ou mais cedo haveria de passar. 
Sempre fui a tua confidente, a pessoa que sabia de tudo o que se passava em tua casa e que levavas para todo o lado sempre que saías. Recordo como se fosse hoje, o dia em que me apresentaste aos teus amigos todos e sou capaz de ainda reconhecer alguns deles.
À noite deixavas-me ir até à rua brincar com as minhas amigas, mas sempre sob o teu olhar atento.
Exigias que comesse tudo o que deitava no prato com a desculpa de que me iria fazer crescer tanto que um dia ia ter que baixar a cabeça para entrar em tua casa. 
Respeitaste as minhas manias e até te esforçaste por dançar as minhas músicas favoritas. Tomaste conta de mim quando não havia ninguém disposto a fazê-lo e não imaginas o quanto te sou grata por isso.
Durante toda a minha vida, mostraste-me que lutar é sempre o caminho certo, que cair faz parte do percurso, que as feridas que fiz nos joelhos, nos cotovelos e mesmo no queixo, não são mais que palavras que me ajudarão a recordar a minha história.
Sendo tu uma das pessoas mais importantes da minha vida, e das poucas que eu sei que não aguentarei perder, não podia deixar passar em branco o teu aniversário. 
Feliz Aniversário, Vó!